À boa maneira portuguesa, a participação da nossa seleção no Euro 2012 está a dar cabo do discernimento da nossa população . Excetuando os habituais tiros nos pés dos nossos governantes de que Miguel Relvas é o exemplo mais recente, o tema do momento é mesmo a seleção de todos nós. Não se fala de outra coisa.
Estamos a viver um momento crítico de histeria desenfreada que tomou conta da imprensa escrita , falada , teleguiada e fibro-transportada.
Não há dúvidas que é lindo vermos o Cristiano a fazer cócegas ao Moutinho, o Nani a tocar piano de costas, o Rolando a cortar as unhas dos pés , o Pepe a dar uns retoques no penteado ou o Meireles a fazer tatuagens nos sovacos. Tudo bem, se já estávamos habituados às brincadeiras, peripécias e piadas dos nossos heróis da bola, agora fomos surpreendidos com uma perturbante novidade. Aquela ridícula campanha publicitária dos supermercados Continente dirigida aos países do nosso grupo acaba por ser a cereja em cima do bolo.
Coitadinhos, temos que perdoar os autores desta genial ideia porque eles não têm culpa. Os verdadeiros culpados são os dirigentes do nosso futebol que continuam a chafurdar na lama, ao permitirem que o nome de Portugal , através da seleção, seja utilizado para estas provocações " terceiro-mundistas". Pensava-se que em pleno Séc.XXI, as mentalidades tivessem de alguma forma evoluído, mas já deu para perceber que o caminho vai ser longo e penoso.
Vamos lá ter calma, pessoal. Já devíamos saber que estas " baixarias " acabam sempre por ter o efeito contrário. Se antes do campeonato começar, os visados por esta brilhante campanha já se estão a rir à gargalhada, quando o Euro 2012 terminar, cheira-me que será a humilhação total.
Maniche e Carlos Manuel até dá para entender. Sinceramente. não estava à espera que o grande FIGO embarcasse numa “ peixeirada “ deste género.
Pensemos um bocadinho : se já somos conhecidos por esse mundo fora pelas nossas eternas limitações, temos que aprender, de uma vez por todas, a manter os pés bem assentes no chão para, pelo menos , mantermos a dignidade e evitarmos ao máximo a humilhação e a chacota geral. Não se trata de sermos subservientes, trata-se de termos orgulho próprio, personalidade , caráter e sobriedade para, na altura certa, darmos as lições que há muito tempo ambicionamos.
Se de facto somos bons, vamos com certeza dar cabo deles e depois poderemos festejar à grande e à portuguesa.
Até lá, não nos podemos esquecer que a nossa história tem sido feita de grandes festejos e floreados para, no final, acabarmos sempre com a cueca na mão e com a lágrima no canto do olho.